PF reuniu mensagens, imagens e dados de localização sobre plano para matar Lula e Moraes; entenda os próximos passos
Conjunto de informações deve ser enviado nos próximos dias à Procuradoria-Geral da República - Por Mariana Muniz, Eduardo Gonçalves e Patrik Camporez — Brasília- 20/11/2024 11h52 Atualizado há 43 minutos
PF prende militares e policial federal em operação investiga plano para matar Lula, Alckmin e Moraes em 2022. Na foto, movimentação na sede da PF, na Praça Mauá — Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
A Polícia Federal reuniu mensagens, dados de geolocalização, documentos, fotos, áudios e imagens de câmeras de segurança para embasar a operação deflagrada na terça-feira, que revelou um suposto plano dos "kids pretos" do Exército para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022. Quatro militares e um policial federal foram presos nesta terça-feira pela PF, em um desdobramento do inquérito que apura a tentativa de golpe.
Agora, as novas informações serão analisadas em conjunto com o restante do inquérito que apura a suposta tentativa de golpe de Estado após Bolsonaro perder a eleição para Lula em 2022. A expectativa é que a PF envie a conclusão nos próximos dias para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que vai analisar se pede novos dados, se arquiva a investigação ou se oferece uma denúncia contra os suspeitos.
O material foi reunido, por exemplo, a partir de informações de operadoras de telefonia e de informações armazenadas no aparelho celular de Mauro Cid, antigo ajudante de ordens de Bolsonaro. Parte do conteúdo havia sido deletada por Cid, mas foi recuperada pela PF por meio de um software israelense. Cid está prestando um novo depoimento à PF nesta tarde.
'Conversa com o presidente'
Em uma das conversas, em 8 de dezembro de 2022, o general da reserva Mário Fernandes diz a Cid que conversou com o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre supostas ações golpistas. Fernandes foi o número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro e chegou a ocupar interinamente o cargo de ministro.
No diálogo, o general pressiona Cid a convencer o então presidente a agir antes que o comando do Exército seja transferido para os militares indicados pelo então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e que o movimento golpista se desmobilize. Cid respondeu a ele que o Bolsonaro "está esperando, para ver os apoios que tem", segundo a PF.
Mensagem enviada por Mauro Fernandes a Mauro Cid — Foto: Reprodução
"Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porra, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades. E aí depois meditando aqui em casa, eu queria que você passasse para ele dois aspectos que eu levantei em relação a isso. A partir da semana que vem, eu cheguei a citar isso pra ele, das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer", disse Fernandes a Cid.
O tenente-coronel respondeu:
"Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes. Ele espera até onde vai, para ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, não dá para esperar muito mais passar. Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12, mas com certeza não vai acontecer nada".
Laudo identifica digital
Os militares investigados usaram telefones celulares registrados em nome de outras pessoas, sem envolvimento com o caso, para conversarem sobre o plano. A Polícia Federal encontrou no aparelho de um desses militares a fotografia de uma Carteira Nacional de Habilitação, que na imagem estava sendo segurada por ele. A partir da descoberta, os investigadores encaminharam a imagem ao Instituto Nacional de Identificação para que fosse feita a perícia das digitais e identificou que as impressões do dedo indicador esquerdo coincidiam com as digitais do militar.
A partir de uma foto no celular, a PF identificou as digitais do militar
Foto: Reprodução
Além disso, outra foto no aparelho mostrava a licença de um veículo registrado no mesmo nome do dono da CNH, o que levou a PF a identificar um boletim de ocorrência registrado por ela. O acidente ocorrido no dia 6 de dezembro de 2022 envolvia o carro conduzido pelo militar. A PF, então, descobriu que o oficial usou os dados da CNH para registrar a linha telefônica que foi usada por ele para tratar da trama golpista.
"A partir dessa constatação, que demonstrou imediata correlação entre os dados vinculados ao terminal telefônico 61-98178- 9891 e a pessoa envolvida no acidente de trânsito, a equipe de
investigação chegou à conclusão de que RAFAEL DE OLIVEIRA utilizou os dados de LAFAIETE TEIXEIRA CAITANO, terceiro de boa-fé, para habilitar número telefônico que, posteriormente, foi utilizado na ação clandestina do dia 15 de dezembro de 2022", diz o relatório.
Grupo ‘Copa 2022’
A PF também reuniu mensagens de um grupo criado pelos militares envolvidos com o plano na plataforma Signal, um aplicativo de troca de mensagens de texto com criptografia avançada, que faz chamadas de voz e vídeo, e as mensagens se autodestroem tanto no remetente quanto no destinatário. O grupo se chamava "Copa 2022" e foi criado em 3 de dezembro de 2022.
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